Sorte não é uma coisa mágica, que abençoa algumas pessoas e outras
não. A rigor, ela é a mesma para todo mundo. Numa experiência que ficou famosa,
o psicólogo inglês Richard Wiseman foi a um programa de televisão inglês que
tinha 13 milhões de telespectadores e pediu: se você é muito sortudo ou muito
azarado, entre em contato. Um milhão de pessoas respondeu, e as mil primeiras
receberam um formulário que permitiria aos pesquisadores classificá-las como
sortudas ou azaradas. Nesse formulário, os voluntários também deviam fazer uma
aposta na loteria. A tese do pesquisador era a seguinte: se os sortudos possuem
algum dom "divino", sobrenatural, extrassensorial ou qualquer coisa
que o valha, eles se sairiam melhor na loteria - que depende apenas da sorte pura e simples. Pouco mais de 700 pessoas responderam.
Dessas, apenas 36 acertaram algum número da loteria - igualmente separadas
entre sortudas e azaradas. Duas pessoas acertaram 4 números e ganharam 58
libras. Uma se considerava sortuda e a outra azarada. Empate. Ou seja: todos
temos a mesma chance de ter sorte. Só achamos que somos diferentes uns dos outros. E isso
acaba nos tornando diferentes.
Ou seja: uma pessoa é sortuda porque se comporta de maneira sortuda. Como coisas boas acontecem para quem age com otimismo e está aberto às oportunidades, os sortudos se beneficiam de um ciclo virtuoso de sorte: eles se consideram sortudos e, a partir dessa crença, agem do jeito certo para aproveitar a sorte. O azarado se irrita na fila do supermercado, evita conversas com estranhos e, quando aceita trocar algumas palavras com alguém, frequentemente está preocupado com outra coisa - a ponto de não perceber que está diante do amor da sua vida ou de seu futuro empregador. Depois de jogar uma oportunidade fora, evita passar debaixo de uma escada, uma superstição boba e vazia. Enquanto isso, o sortudo aproveita a fila para bater papo (porque as pessoas que se consideram sortudas, como ele, exibem em média 27% maior extroversão em testes de personalidade). E descobre que o cara da frente está vendendo um ótimo carro, justamente aquele modelo que ele queria, na cor que ele queria, e com um preço incrível. Mais tarde, ao contar aos amigos, diz que deu sorte de cair justo naquela fila. Percebeu? Em ambos os casos, a situação e o contexto são exatamente os mesmos. Só muda o que cada um fez deles. E esse é o segundo eixo da sorte: a capacidade de transformar encontros casuais em situações positivas. Porque sorte é, sim, uma questão de comportamento. Depois de realizar centenas de entrevistas e submeter um grupo de pessoas a testes de personalidade, além de acompanhar a rotina dos participantes do estudo através de diários preenchidos pelos próprios voluntários, Richard Wiseman concluiu que há uma consistência na sorte. Se ela fosse totalmente aleatória, seria razoável supor que algumas pessoas terão sorte no amor, mas azar no trabalho. Certo? Errado. Em seus testes, Wiseman descobriu que quem se sentia azarado na carreira invariavelmente também estava mal resolvido no relacionamento. E vice-versa: os abençoados nas finanças diziam tersorte na família. "Algumas pessoas parecem capazes de atrair boa sorte, enquanto outras são um imã para o azar", explica Wiseman em seu livro O Fator Sorte.
Sorte também depende da genética: que é influenciada por coisas que
acontecem antes de você nascer, sobre as quais você não tem controle. Você não
pode mudar a genética, mas pode aprender a tirar proveito dela.
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