sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Crer é preciso


Quando entrei para o ginásio (atual quinta série do ensino fundamental) achei que finalmente começaria encontrar as respostas para minhas dúvidas. Eu não era diferente dos outros meninos, mas, por algum motivo, tinha alguns interesses que não faziam parte do cardápio da maioria dos coleguinhas. Queria, por exemplo, saber a origem das coisas. Tinha curiosidade para entender como tinha começado o Universo, a vida, a diversidade das espécies. Eu não era especial, mas era especialmente curioso.

Até que tive uma aula de biologia que ativou todos os meus neurônios. O professor entrou na sala, cumprimentou a turma com bom humor e escreveu no quadro negro: Teorias sobre a origem da vida na Terra. Pronto, pensei, agora vou saber tudo. Não senti passarem os cinquenta minutos da aula, mas quando ela terminou percebi que minha angustia só tinha aumentado. O professor não esclareceu nada, só confundiu ainda mais, pois agora eu sabia que tudo o que havia eram teorias, não certezas.

Descobri que havia três correntes que se atribuíam a primazia de explicar nossa origem: o Criacionismo, o Evolucionismo e a Teoria Cosmogênica. A primeira defendia o surgimento da vida como obra de uma vontade de Deus. A segunda explicava que somos resultado de um longo e lento processo de evolução baseado na seleção natural, e fiquei sabendo que quem desenvolveu este pensamento foi um inglês chamado Charles Darwin. Mesmo para meu cérebro jovem essas duas teorias estavam cheias de falhas por sua insustentabilidade diante de algumas perguntas mais profundas. A terceira teoria, então, estava descartada pois defendia que a vida tinha sido trazida de outro planeta, de algum ponto distante do cosmos. Tenha paciência.

Pela primeira vez me deparei com o dilema razão versus fé. Como minha tendência, desde sempre, foi de racionalizar, tratei de me posicionar. Para mim, o evolucionismo era a explicação, e até hoje sou um fã de Darwin. Tenho uma pequena coleção de livros sobre sua obra, garimpados mundo afora. Na estante onde repousam está também uma estatueta do naturalista inglês que comprei no British Museum há alguns anos. Enquanto escrevo este texto, ele me observa impassível.

Entretanto a escolha não me trouxe paz. Em uma discussão acalorada entre os colegas da turma, nitidamente dividida em dois grupos, eu era um dos mais radicais, mas minha convicção sofria alguns abalos. Por exemplo, quando critiquei a Teoria Cosmogênica porque ela não explicava nada, só transferia a responsabilidade do surgimento da vida para outro planeta, um colega me fez ver que o Evolucionismo padecia do mesmo mal, pois, se a vida veio do encontro entre moléculas, e estas são resultado da união de átomos, que por sua vez são formados por prótons, nêutrons e elétrons devidamente arranjados por forças eletromagnéticas, de onde surgiram, afinal, essas partículas elementares? Quem as fez? Não seria também uma forma de entrar em um beco sem saída para nossas perguntas?

Então fiz o que todos fazemos diante dos grandes dilemas. “Ok” – disse – “vamos jogar bola”. E fomos fazer algo que sabíamos fazer. E que fazia sentido.

(Fonte - Revista Vida Simples nº 119 01/06/2012 - Por Eugênio Mussak - LINK)

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